Perfil criado por jovens indígenas alcança milhares de seguidores com “fofoca, memes e luta” nas redes

Yves Ivanovna
By Yves Ivanovna 4 Min Read

Em 18 de janeiro, uma postagem sobre o assassinato de dois jovens pataxós da Terra Indígena de Barra Velha, na Bahia, era sucedida por uma enquete sobre a preparação de rãs como “merenda”. A sequência fazia parte dos Stories de Instagram da Choquei Parente, um perfil nas redes sociais administrado por jovens indígenas brasileiros. No mesmo dia, o feed da página era atualizado com uma foto da Miss Indígena de Roraima, Mari Wapichana, com a qual interagiram milhares de seguidores, entre indígenas e não-indígenas.

“Fofoca, memes e luta” é como os administradores da rede definem a variedade dos conteúdos publicados por lá, das denúncias mais graves a causos bem-humorados envolvendo os “parentes”, como se reconhecem e denominam muitos indígenas pelo país.

“O nome ‘Choquei’ é inspirado na página de fofoca dos brancos (não-indígenas) e o ‘Parente’ é como nós indígenas nos chamamos. Aí juntei os dois como forma de dar notícias que choquem os nossos parentes”, explica o fundador da página à GQ Brasil.

Criada no início de 2022, a Choquei Parente é hoje administrada por sete jovens indígenas, de 18 a 22 anos, que preferem se manter anônimos. Por mensagens de texto trocadas com a reportagem, o criador da página prefere não revelar seus nomes e etnias, mas conta que o grupo se espalha por diferentes estados brasileiros: Bahia, Maranhão, Pará e Rondônia.

“Se revelamos [a identidade], perde a graça porque todo mundo iria saber e ficaria estranho, desconfortável, com a gente”, esclarece o jovem.

Em uma coluna publicada no início de janeiro no canal de notícias Sumaúma, a jornalista Leticia Leite resume a relevância da Choquei Parente no Brasil de 2023, ao escrever sobre os bastidores da posse da primeira ministra brasileira dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara:

“Trabalho com povos indígenas desde janeiro de 2013. E estava faltando uma fonte de humor nesse novo cenário da política indígena brasileira. (…) Choquei Parente fala da fofoca boa, sabe? (…) É feita por indígenas que preferem o anonimato e virou febre entre os parentes em Brasília”, escreveu a jornalista.

Mais recentemente, quando já alcançava mais de 7 mil seguidores no Instagram, a página passou por mudanças e o foco inicial do perfil foi ampliado.

“Eu criei a página por brincadeira, por causa de uma treta que estava acontecendo entre uns parentes”, conta o fundador. “[No início] não tinha muita curadoria, a gente postava o que os parentes mandavam. Hoje em dia, a gente fica atento com o que deve ou não ser postado. (…) Vamos atrás de fontes confiáveis para ver se a notícia é verdadeira e não dar nenhum b.o”, segue.

Ainda segundo o administrador, as publicações com mais engajamento na página hoje são notícias, voltadas a “jovens indígenas e pessoas que querem saber do que acontece no mundo indígena”.

“Hoje, o nosso perfil não posta só fofoca, mas também notícias que acontecem nos territórios indígenas. A gente passou por mudanças e esse maior engajamento na página ajuda nas nossas pautas e a divulgar ‘vaquinhas’ que os parentes fazem para combater situações que eles estão passando”, esclarece.

Entre as publicações divulgadas pela página na última semana, estão trechos e repercussões de reportagens que mostram a trágica situação vivida por famílias da Terra Indígena Yanomami, em Roraima, devido ao avanço do garimpo ilegal na região. Em 20 de janeiro, o Ministério da Saúde declarou emergência de saúde pública no território, após o registro de milhares de casos de desnutrição severa, malária e mortes decorrentes de contaminação por mercúrio e fome no último ano.

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