Megera, o menor mamífero terrestre, “come” o próprio cérebro para sobreviver

Yves Ivanovna
By Yves Ivanovna 3 Min Read

Calma, leitor, não se trata de um zumbi do mundo animal. Mas, ainda assim, o fenômeno é de causar espanto. O menor mamífero terrestre, o musaranho-pigmeu (Suncus etruscus), também conhecido como megera, tem um truque intrigante para economizar energia durante o inverno.

Quando a comida torna-se escassa e muitos animais migram para outras regiões ou mesmo descabelarem a ponto de hibernar, a megera radicaliza: para sobreviver aos meses mais frios, o animal “come” o seu próprio cérebro, reduzindo o órgão em até um quarto. Ao reduzir de tamanho seu cérebro, o animal acaba aliviando sua demanda por energia.

Não mais pesado que uma carta de baralho, esse pequeno mamífero precisa comer oito vezes seu peso corporal todos os dias. Grande parte da massa cerebral na primavera é recuperada na primavera, período no qual o musaranho se refastela com pequenos insetos. Esta também é época do ciclo reprodutivo, o que exige energia extra.

Essa característica do mamífero que habita o centro e o norte da Europa e grande parte da Ásia, foi observada pela primeira vez na década de 1940, mas só em 2017 experimentos científicos com indivíduos da espécie resultaram em um artigo específico a respeito.

O mecanismo de encolhimento sazonal do cérebro – chamado de fenômeno de Dehnel – já foi observado em outros pequenos mamíferos de alto metabolismo, incluindo doninhas e toupeiras, relata o Washington Post.

Mais do que uma curiosidade biológica, o jornal destaca que o encolhimento do cérebro da megera e a sequente recuperação do poder cerebral pode ajudar os médicos a tratar o mal de Alzheimer, a esclerose múltipla e outras doenças neurodegenerativas. É possível, por exemplo, desenvolver medicamentos para imitar a química de alteração cerebral de musaranhos em humanos.

Segundo os cientistas, é a matéria branca rica em lipídios espalhada por todo o cérebro que parece estar desaparecendo no animal, e essa mesma deterioração é um sintoma de esclerose múltipla e outras doenças neurodegenerativas.

Os pesquisadores estão agora estudando como capacidade cognitiva é recuperada e mantida. Para isso, testam a movimentação da megera em um labirinto feito de peças de LEGO e outros quebra-cabeças de laboratório.

Há grandes expectativas com o estudo. “Há quantos séculos as pessoas estudam a fauna europeia? E quantos milhares e milhares de cientistas procuraram e não viram isso? Pense em todas as coisas incríveis que estão escondidas por aí porque nunca olhamos”, disse Liliana M. Dávalos, bióloga evolutiva da Stony Brook University, em Nova York, referindo-se não só ao musaranho, mas outros ecossistemas, como as florestas tropicais.

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